segunda-feira, maio 22, 2006

A Nova Cara do Departamento de Bioquímica

Se eu não soubesse diria que passou um furacão pelo Departamento de Bioquímica, virando tudo de pantanas e obrigando à realização de obras profundas... Mas não: tudo isto que aqui vêem é fruto do empenho duma pessoa que merece todo o meu reconhecimento: o Professor Luís Martinho do Rosário.

E aquilo que era antes uma ala decrépita da Universidade de Coimbra ganhou cor e vida. É agora um pólo dinâmico de lazer, cultura e arte... Um verdadeiro exemplo a seguir!! Exemplo disso foi a exposição "Rui Cunha, pai e filho: 2 vidas, 1 obra", que esteve patente no átrio Rui Cunha e no novo espaço de exposições entre os dias 20 de Abril e 18 de Maio e contou com pinturas do Mestre Rui Cunha e fotografias do seu pai, Rui Eloy Cunha.

Parabéns!!! E obrigado!!!

domingo, maio 21, 2006

Dos macacos que fomos aos macacos que somos

Ainda hoje se desconhece quanto tempo passou desde que uns macacoides, levantados nas patas da frente, se assumiram como seres pensantes. Numa coisa, porém, os antropólogos estão de acordo: foram precisos muitos (mas muitos) e penosos milénios. O que representa tantos dias e noites que nos deixa perplexos.
E por mais problemas que o homem tenha encontrado pela frente, a sua cabeça devia estar bem mais arrumada do que está – em rigor, devia ser outra e não a que traz pousada no pescoço. Claro que o progresso é lento e sofre frequentes desvios. Custa, contudo, entender que quase quatro mil anos depois que o babilónico Hamurabi se saiu com o famoso “Código” – marco genial da nossa capacidade intelectual – ainda hoje sejamos capazes de ir, aos magotes, a Fátima, cantar o Avé; ou de votar num desses partidos políticos (tanto faz um como o outro, é igual); ou de suportar a ditadura do televisor sem o rebentar à sarrafada; ou de fazer do Bibi um caso nacional.
Há, aqui pelo meio, grossa sabotagem, isso há – falta saber se por culpa de Deus se do Diabo. Quatro mil anos após o “Código de Susa" e quase três mil sobre Platão, Sócrates e Aristóteles, haver quem tome a sério o Durão Barroso, ou admita que o Santana Lopes alape o cu na cadeira presidencial de Belém é surpreendente! Como, aliás, o é achar graça à Teresa Guilherme, ouvir as imbecilidades dum Big Brother, bater palmas ao Baião, acreditar na Manuela Ferreira Leite ou no Paulo Portas e tomar à letra as charlas de Marcelo Rebelo de Sousa.
Pregaram-nos partida e não pequena, leitor; cortaram-nos as vazas e as asas. Porque, nesses gloriosos tempos do Hamurabi, era lícito julgar-se que o homem cedo se tornaria num arcanjo – senhor de nobres gostos e lúcidos saberes – e não no pobre macaco que hoje é, ou voltou a ser. Macaco a que só falta pôr novamente as mãos no chão, por coerência – o que, na certa, lhe traria vantagens para sobreviver como espécie. Assim, erecto e inepto, não vai longe.

quinta-feira, maio 18, 2006

TRANSPARÊNCIA

"Assim que fui capaz de observar os homens, olhava-os a agir e escutava-os a falar; depois, vendo que as suas acções não se pareciam de modo algum com os seus discursos, procurei a razão dessa dissemelhança, e descobri que, sendo ser e parecer, para eles, duas coisas tão diferentes quanto agir e pensar, essa segunda diferença era a causa da outra.(...) No empreendimento que concebi de me mostrar inteiro ao público, é preciso que nada de mim lhe permaneça obscuro ou oculto; é preciso que me mantenha interessante sob os seus olhos; que ele me siga em todos os descaminhos do meu coração, em todos os recantos da minha vida; que não me perca de vista um só instante, de modo que, encontrando o meu relato a menor lacuna, o menor vazio, e perguntando-se: oque é que ele fez durante este tempo?, não me acuse de não ter querido dizer tudo. "

Rousseau, J.-J., "Lettre à Christophe de Beaumont", in Oeuvres complètes

domingo, maio 14, 2006

Simetria

SIMETRIA... UMA PANORÂMICA DE VIDA!!

O que é a verdade?

O que é a verdade? Será que a minha verdade é igual à tua? Ou não será a verdade um mero pressuposto que nós criamos acerca de algo...


Então onde reside a verdadeira verdade?

Umberto Eco, Pêndulo de Foucault:
«Onde li eu que no momento final, quando a vida, superfície sobre superfície, se incrustar de experiência, saberás tudo, o segredo, o poder e a glória, porque nasceste, porque estás a morrer, e como tudo poderia ser de outra maneira? És um sábio Mas a sabedoria maior, nesse momento, é saber que só o soubeste demasiado tarde. Compreende-se tudo quando não há mais nada para compreender.»

Une Saison en Enfer

«Outrora, se bem me recordo, a minha vida era um festim em que se abriam todos os corações, em que todos os vinhos fluíam.

Uma noite sentei a Beleza nos meus joelhos. – E achei-a amarga. – E injuriei-a.

Armei-me contra a justiça.

Fugi. Ó feiticeiras, ó miséria, ó ódio, a vós foi confiado o meu tesouro!

Consegui fazer dissipar-se no meu espírito qualquer esperança humana. Para estrangular toda a alegria, saltei sobre ela como uma fera.

Chamei os carrascos para lhes morder a coronha das espingardas enquanto morria. Invoquei os flagelos para me asfixiar com areia, o sangue. O infortúnio foi o meu deus. Estirei-me na lama. Sequei-me ao vento do crime. E preguei belas partidas à loucura.

E a primavera trouxe-me o riso medonho do idiota.

Ora, tendo-me encontrado muito recentemente prestes a dar a última fífia, pensei procurar a chave do festim antigo, onde talvez recuperasse o apetite.

A caridade é essa chave. – Esta inspiração prova que sonhei!

“Permanecerás hiena, etc…”, protesta o demónio que me coroara de tão amáveis papoilas. “Ganha a tua morte com todos os teus apetites, e o teu egoísmo e todos os pecados capitais.”

Ah! tomei demasiado daquilo: - Mas, caro Satanás, conjuro-vos, olhai-me menos irritado! e enquanto esperais as cobardiazinhas atrasadas, para vós que no escritor amais a ausência das faculdades descritivas ou instrutivas, arranco estas folhas medonhas do meu caderno maldito.»

Arthur Rimbaud, Une Saison en Enfer

*tradução: Maria Gil Moreira. Colecção Mínima – Ulmeiro