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sexta-feira, junho 26, 2009

Wildest of the Wild

Where the Wild Things Are:
- Em breve, pelo olho de Spike Jonze;
- Agora, pela mão de Maurice Sendak.

(cliquem na imagem para aumentar)

sábado, junho 06, 2009

Darkness, Lord Byron

I had a dream, which was not all a dream.
The bright sun was extinguish'd, and the stars
Did wander darkling in the eternal space,
Rayless, and pathless, and the icy earth
Swung blind and blackening in the moonless air;
Morn came and went - and came, and brought no day,
And men forgot their passions in the dread
Of this their desolation; and all hearts
Were chill'd into a selfish prayer for light:
And they did live by watchfires - and the thrones,
The palaces of crowned kings - the huts,
The habitations of all things which dwell,
Were burnt for beacons; cities were consumed,
And men were gathered round their blazing homes
To look once more into each other's face;
Happy were those who dwelt within the eye
Of the volcanos, and their mountain-torch:
A fearful hope was all the world contain'd;
Forests were set on fire - but hour by hour
They fell and faded - and the crackling trunks
Extinguish'd with a crash--and all was black.
The brows of men by the despairing light
Wore an unearthly aspect, as by fits
The flashes fell upon them; some lay down
And hid their eyes and wept; and some did rest
Their chins upon their clenched hands, and smiled;
And others hurried to and fro, and fed
Their funeral piles with fuel, and looked up
With mad disquietude on the dull sky,
The pall of a past world; and then again
With curses cast them down upon the dust,
And gnash'd their teeth and howl'd: the wild birds shriek'd,
And, terrified, did flutter on the ground,
And flap their useless wings; the wildest brutes
Came tame and tremulous; and vipers crawl'd
And twined themselves among the multitude,
Hissing, but stingless - they were slain for food.
And War, which for a moment was no more,
Did glut himself again; - a meal was bought
With blood, and each sate sullenly apart
Gorging himself in gloom: no love was left;
All earth was but one thought - and that was death,
Immediate and inglorious; and the pang
Of famine fed upon all entrails - men
Died, and their bones were tombless as their flesh;
The meagre by the meagre were devoured,
Even dogs assail'd their masters, all save one,
And he was faithful to a corse, and kept
The birds and beasts and famish'd men at bay,
Till hunger clung them, or the dropping dead
Lured their lank jaws; himself sought out no food,
But with a piteous and perpetual moan,
And a quick desolate cry, licking the hand
Which answered not with a caress - he died.
The crowd was famish'd by degrees; but two
Of an enormous city did survive,
And they were enemies: they met beside
The dying embers of an altar-place
Where had been heap'd a mass of holy things
For an unholy usage; they raked up,
And shivering scraped with their cold skeleton hands
The feeble ashes, and their feeble breath
Blew for a little life, and made a flame
Which was a mockery; then they lifted up
Their eyes as it grew lighter, and beheld
Each other's aspects--saw, and shriek'd, and died -
Even of their mutual hideousness they died,
Unknowing who he was upon whose brow
Famine had written Fiend. The world was void,
The populous and the powerful--was a lump,
Seasonless, herbless, treeless, manless, lifeless -
A lump of death - a chaos of hard clay.
The rivers, lakes, and ocean all stood still,
And nothing stirred within their silent depths;
Ships sailorless lay rotting on the sea,
And their masts fell down piecemeal: as they dropp'd
They slept on the abyss without a surge--
The waves were dead; the tides were in their grave,
The moon their mistress had expir'd before;
The winds were withered in the stagnant air,
And the clouds perish'd; Darkness had no need
Of aid from them - She was the Universe.

sábado, abril 11, 2009

Mensário das Casas do Povo

Gostaria de partilhar com todos os meus leitores uma “descoberta” deveras interessante que fiz, recentemente, no arquivo da Casa do Povo (de Casegas). Trata-se do Mensário das Casas do Povo.
E é aqui que pego no estudo de Nuno Domingos sobre as Bibliotecas da Casa do Povo - publicado no livro Estudos de Sociologia da Leitura em Portugal no Século XX (Direcção de Diogo Ramada Curto, numa edição conjunta da FCG e da FCT) – para explicar com maior precisão no que consiste o Mensário da Casa do Povo.
“Publicação especialmente criada para acompanhar a actividade das Casa do Povo, o Mensário das Casas do Povo era um espaço jornalístico difusor da retórica ruralista mais exacerbada. Redigidos numa linguagem culta e pouco acessível a frágeis esquemas interpretativos, os artigos e textos do Mensário pareciam destinados aos elementos que se poderiam tornar os elos de ligação entre o poder central e as localidades, entre a doutrina e as práticas. Um dos princípios fundadores da Junta Central das Casas do Povo, criada em 1945 com o objectivo de reorganizar a intervenção cooperativa, era a indispensabilidade de assegurar a eficácia de uma acção persuasiva através da criação de um mensário que não vise unicamente a generalidade dos sócios efectivos, mas se destine, também, aos dirigentes, que contenha, em cada número, regras práticas de acção, alvitres, sugestões, que seja, ao mesmo tempo, uma publicação bonita, legível e agradável, que convença pela palavra e pela imagem. O Mensário constitui um óptimo observatório de análise para avaliar o modo como o centro político operacionalizou teoricamente as suas intenções de disciplinar a periferia rural.”

Cito Nuno Domingos porque o Mensário das Casas do Povo é exactamente como ele o descreve, uma publicação ao serviço da política cultural do Estado Novo, densa e pouco acessível ao comum Homem do Campo (a quem se destinava!). Não obstante, não deixa de ser extremamente interessante, quer a nível gráfico, como ao nível dos próprios conteúdos, que abordavam temas como a lavoura, maternidade, música, adivinhas ou contos; já para não falar naquelas publicidades preciosas, vulgo reclames, dos anos 50 e 60. Deixo-vos algumas imagens.

quarta-feira, março 19, 2008

2008: a última odisseia

A ficção científica sempre foi um género menor da literatura.
Não obstante, para mim, a criatividade e o génio de H.G. Wells, Philip K. Dick, Isaac Asimov e Arthur C. Clarke rivalizam em pé de igualdade com os grandes da literatura, sejam eles clássicos ou nobeis.
Hoje, com a morte de Arthur C. Clarke, o último dos grandes mestres da ficção científica, o mundo ficou mais pobre. Arthur C. Clarke foi um visionário, um profeta do futuro. No Doca está-se de luto.
Egas, um Fã!!

Arthur C. Clarke numa das suas últimas aparições.... para fixar!

sábado, abril 14, 2007

Já cá canta!!!

Pois é meus amigos, aqui está o meu exemplar de The Children of Húrin (falado aqui) de JRR Tolkien, acabadinho de sair do forno. :)))

Este livro, publicado pela HarperCollins Publishers (na sua versão original em inglês), é uma verdadeira pérola. Já dei uma olhadela e posso desde já afiançar que só as ilustrações de Alan Lee valem bem o valor pago!

Cheira-me que hoje alguém vai fazer serão de leitura, eh eh!!

segunda-feira, março 26, 2007

Estou em pulgas para deitar as mãos a este livro

Após 30 anos de dedicação e árduo trabalho de selecção e compilação da extensa e dispersa obra de J.R.R. Tolkien, Christopher Tolkien prepara-se para dar a conhecer ao mundo, dia 17 de Abril, aquela que poderá ser a derradeira obra do pai do estilo heroic fantasy - "Os Filhos de Hurin".
Traduzindo para os não-tolkianos, Nar i Hin Hurin conta a história lendária da luta heróica de Hurin e seus filhos contra o mal de Morgoth e é uma das peças fundamentais da mitologia tolkiana.
Mas as surpresas não se ficam só por aqui, pois a sua edição em livro contará ainda com 25 magníficas ilustrações feitas pelo mestre Alan Lee. Portanto, não é de estranhar este meu estado de febril ansiedade...
Ai que ainda falta tanto tempo para o dia 17 de Abril.

quarta-feira, março 21, 2007

Dia Mundial da Árvore e da Poesia 2

Árvore, cujo pomo, belo e brando,
natureza de leite e sangue pinta,
onde a pureza, de vergonha tinta,
está virgíneas faces imitando;

nunca da ira e do vento, que arrancando
os troncos vão, o teu injúria sinta;
nem por malícia de ar te seja extinta
a cor, que está teu fruto debuxando.

Que pois me emprestas doce e idóneo abrigo
a meu contentamento, e favoreces
com teu suave cheiro minha glória,

se não te celebrar como mereces,
cantando-te, sequer farei contigo
doce, nos casos tristes, a memória.

Árvore, cujo pomo, belo e brando, Luís Vaz de Camões

Dia Mundial da Árvore e da Poesia 1

Cada árvore é um ser para ser em nós
Para
ver uma árvore não basta vê-la
a árvore é uma lenta reverência
uma presença reminiscente
uma habitação perdida
e encontrada
À sombra de uma árvore
o tempo já não é o tempo
mas a magia de um instante que começa sem fim
a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas
e de sombras interiores
nós habitamos a árvore com a nossa respiração
com a da árvore
com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses

Cada árvore é um ser para ser em nós, António Ramos Rosa

Dia Mundial da Poesia

Golpes
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.

A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
Sobre a rocha

Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro

Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.

Palavras, Sylvia Plath

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

O maior português de sempre

Numa altura em que a discussão da "portuguesidade" é um dos temas centrais da praça nacional, a minha escolha para o melhor/maior português de sempre recai sobre o .... POVO. O Povo porque foi com o seu sangue que se fez este País. O Povo porque é ele a alma de um país. Porque sem Povo não haveria Portugal.

Mas no povo há de tudo. Há bom povo e mau povo. Importa por isso destrinçar a que povo me refiro. O Povo de que falo é aquele representado pelo Homem do Leme de Fernando Pessoa (in Adamastor, Mensagem), aquele que pode tremer perante o Adamastor mas cuja vontade não vacila. O Povo corajoso, aventureiro, poeta. O Povo saudosista e boémio. O Povo Português.

"Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!"


Infelizmente, o Povo não faz parte da lista elaborada pela RTP... Mas como não faz parte dos meus planos abster-me, após matura reflexão acabei por chegar à conclusão que Camões é a escolha certa.
Porquê Camões?!
Camões porque é para mim aquele que melhor encarna o espírito de ser português. Foi aventureiro e saudosista; patriota e corajoso; boémio e poeta. E foi precisamente na poesia que alcançou a sua maior realização: Os Lusíadas. Os Lusíadas que são uma das maiores obras literárias de sempre. Os Lusíadas da Epopeia Portuguesa; um canto ao orgulho de ser Português e ao espírito patriótico. Porque foi com Os Lusíadas que renasceu o sentimento lusitano (bem anterior a D. Afonso Henriques!). Mas sobretudo, porque Camões é o pai da literatura portuguesa. Foi nele que ela nasceu. Foi ele o primeiro a exaltar a Língua Portuguesa.

E porque "a minha pátria é a língua portuguesa" o meu voto só poderá ir para Luís Vaz de Camões, o maior dos portugueses.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

A aritmética do tempo

Clearly, any real body must have extension in four directions: it must have Length, Breadth, Thickness, and Duration. But through a natural infirmity of the flesh, which I will explain to you in a moment, we incline to overlook this fact. There are really four dimensions, three which we call the three planes of Space, and a fourth, Time. There is, however, a tendency to draw an unreal distinction between the former three dimensions and the latter, because it happens that our consciousness moves intermittently in one direction along the latter from the beginning to the end of our lives.
The Time Machine, H. G. Wells

Já agora, aproveito para recomendar a minha última descoberta em sites que desponibilizam livros gratuitamente:

E não se esqueçam que continua a existir este em português (referido aqui):

O sacrilégio de Verlaine e o meu amor por Rimbaud

Encontrei hoje no baú de recordações esta biografia de Arthur Rimbaud (já referido aqui) que tinha escrito para o número 2 da revista RNAmensageiro. Sem mais delongas e até porque o texto já é grandito, aqui fica:

O Sacrilégio de Verlaine
e o meu amor por Rimbaud


Quem é afinal esse rapaz raro, dotado de uma lucidez tão precoce, ao mesmo tempo perturbante e transparente, que escrevia silêncios e anotava o inexprimível?

Nascido em Charleville em Outubro de 1854, Arthur Rimbaud foi um poeta meteórico, surgido num rasgo de revelação prematura e eclipsando-se tão vertiginosamente como houvera surgido. De facto, o seu espírito criativo é de tal maneira efémero que o essencial da sua obra se compreende apenas entre os 15 e os 19 anos, tendo mesmo acabado por abandonar a escrita aos 21 anos, mas não sem antes mudar o rosto da poesia.

Rimbaud teve poucos amigos. Vítima da tirania materna, Arthur desde cedo se revelou um mutista tímido que vivia a diferença: a diferença de uma homossexualidade latente; a diferença de uma arte em busca da sensação primitiva, da aventura existencialista. Uma realidade única.

Quando era pouco mais que um miúdo percorria as ruas de Charleville, acompanhado pelos três irmãos, Fréderic, Vitalie e Isabelle, escrevendo a giz nas paredes e nos bancos de jardim: “Merde à Dieu”. Aluno brilhante, Arthur ganhou o primeiro prémio no Concurso Académico do Colégio de Charleville, em grande parte devido ao apoio e encorajamento do seu professor Georges Izambard, e mais tarde também ele, como que em gesto de retribuição, acabou por homenagear a pequena cidade, ao fazer dela lenda.

Arthur foi um visionário, o poeta que ousou ver mais além, o poeta que ousou penetrar no roseiral dos filósofos, onde tempo e espaço são apenas um. Ele não foi apenas uma sombra inconstante que se limitou a pavonear-se durante a sua hora em cena. – Não: Rimbaud foi muito mais e várias foram as gerações que nele descobriram o fogo acutilante da palavra. Considerado um dos precursores do futurismo, consegue beber-se no automatismo da sua escrita sem controlo a magia de um amanhã que certamente irá nascer – por exemplo quando ele escreve: “A ciência: a nova nobreza! O progresso. O mundo avança! Porque não haveria ele de girar?”.

A escrita de Rimbaud é quase uma síntese autobiográfica: a sua poesia não é reflexo do artista, mas memórias de uma vida incandescente que via nas palavras a própria salvação – ele é antes de mais poeta de si mesmo. Lábil, desconexo; boémio, herege; muitas vezes rutilante, outras clarividente; dotado de uma loucura poética espasmódica que tantas vezes contribuiu para a sua tortura, mas também para o seu triunfo. Os seus poemas são uma epopeia de expressão e sentimento, iluminações que exploram os limites da linguagem, um evidente anseio de absoluto. E talvez seja esse o seu maior legado: a abertura de novos horizontes.

E da escassa obra destacam-se aquelas que pela sua nitidez quase cristalina sejam talvez o melhor exemplo do espírito indomável de Arthur: Iluminations e Une Saison En Enfer. Uma Temporada No Inferno nasceu durante o período de convalescença febril de Rimbaud (aos 19 anos!), consequência do fatídico fim da sua relação amorosa com Verlaine, encerrada com a prisão deste após ter disparado duas vezes sobre o amante. Este é o texto de um sobrevivente que se vê envolvido numa tempestade em que ressaltam sentimentos como a inocência e a culpabilidade, o relato demente e revelador de uma alma perdida. O inferno! O Livro Negro! Prenhe de sensações e visões fragmentárias, são as contradições e o experimentalismo gritante que mais sobressaem neste livro, sofisma ensaístico do veneno interior. Iluminações é um conjunto de poemas em prosa, resplandecentes e erráticos, gravuras simbólicas de um espírito aventureirista, visões coloridas de um amanhã. Inaudita, com tudo em si, esta é uma obra povoada de êxtases e fanfarras, de suavidade e harmonia. O verdadeiro alvorecer de um rapaz raro, o despertar de um inventor perturbante – “Beijei a madrugada. Era Verão.”.

A partir de 1973, Rimbaud dedica a sua vida ao esgotamento do corpo, a fuga a uma realidade que não a sua. Abandona a escrita e parte em busca de conforto para o espírito atormentado; mas nunca o encontrará. Viaja por Chipre, Arábia e Abissínia, envolve-se no comércio do ouro, café, marfim, armas e, segundo alguns, escravos, mas tudo isso não passam de desajeitadas tentativas para enriquecer. E da aventura africana só regressará para morrer. Capitula a 10 de Novembro de 1891 no Hôpital de la Conception, em Marselha, onde lhe fora amputada uma perna. Mas há muito que Rimbaud estava morto: no olhar “de um azul pálido inquietante” (como mais tarde Verlaine escreveu) apenas existia o vazio de alguém que já tinha atravessado as portas do inferno. Tinha então 37 anos, e tal como em tudo na sua vida também na morte foi precoce.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

o regresso da filosofia

Durante um passeio pela net dei de caras com um link para um ensaio de Philip K. Dick que devorei avidamente.

Philip K. Dick (PKD) foi um escritor de ficção científica que, apesar do pouco reconhecimento em vida, alterou profundamente este género literário. Percursor do cyberpunk, subgénero de ficcão científica que utiliza elementos de romances policiais, film noir, desenhos animados japoneses e prosa pós-moderna visando uma descrição niilista e underground da sociedade moderna, PKD inspirou filmes como Blade Runner, Minority Report, Total Recall ou Paycheck.

"How to build a Universe that doesn't fall apart two days later" é um brilhante ensaio que se debruça sobre algumas das grandes questões da humanidade. O que nos torna humanos? o que é a realidade? As respostas a tudo isso e muito mais podem ser lidas (em inglês!) em:

Para finalizar, só uma pequena citação:
"Reality is that wich, when you stop believing in it, doesn't go away."

Para mais informações sobre Philip K. Dick visitem
www.philipkdick.com

domingo, janeiro 14, 2007

"O mundo estará fodido de vez no dia em que os homens viajarem em primeira classe e a literatura no vagão de carga"

Após alguns avanços e recuos acabei, finalmente, de ler Cem Anos de Solidão de Gabriel García Márquez.

Mas que livro... Estou completamente avassalado pelo poder que cada página deste livro emana, como se eu próprio fosse um dos habitantes de Macondo, sujeito às aventuras e desventuras da família Buendía.

Obsessões, tragédias, guerras, repressões, caprichos, incestos, descobertas, milagres. Eis Cem Anos de Solidão, o relato da história da fabulosa família Buendía, desde a mítica fundação de Macondo e dos seus dias de glória, aos dias da decadência e cumprimento do seu fado.

Cem Anos de Solidão ainda que fantástico é um livro dotado dum realismo tão duro e cruel, que em cada linha se consegue ler a própria História da Humanidade. Como se de um prenúncio se tratasse, pois os sentimentos que conta são os sentimentos que vivem em todos nós.

Simplesmente brilhante. E agora que cheguei ao fim só me apetece recomeçar.

terça-feira, outubro 31, 2006

pequenas grandes descobertas

Durante uma das minhas visitas ao Blog núcleo de Coimbra do Movimento de Intervenção e Cidadania deparei-me com um repto que julguei deveras interessante e após uma visita ao portal em questão convenci-me de que este é um projecto a apoiar, pelo que deixo aqui a mensagem:

Imaginem um lugar onde se pode ler, gratuitamente, as obras de Machado de Assis, A Divina Comédia, ou ter acesso a contos infantis de todos os tempos. Um lugar que lhe mostra as grandes pinturas de Leonardo Da Vinci, onde se pode escutar músicas em MP3 de alta qualidade. Esse lugar existe!!!! O ministério da educação brasileiro disponibiliza tudo isso, basta aceder ao site www.dominiopublico.gov.br.

Só de literatura portuguesa são 732 obras! Estamos em via de perder tudo isto, pois vão desactivar o projecto por falta de uso, já que o volume de acesso é muito reduzido. Vamos tentar impedir esta desgraça, divulgando e incentivando amigos, parentes e conhecidos a utilizarem esta fantástica ferramenta de disseminação da cultura e do gosto pela leitura.

Divulga entre o máximo de pessoas, por favor.
__________________________________________
Infelizmente não encontramos disto em Portugal porque a Ministra da Cultura está mais ocupada com as suas guerrilhas políticas do que com a promoção da cultura... É caso para pensar!!

sexta-feira, agosto 11, 2006

Fernão, o pirata

Sou o único homem a bordo do meu barco.
Os outros são monstros que não falam,
Tigres e ursos que amarrei aos remos,
E o meu desprezo reina sobre o mar.
 
Gosto de uivar no vento com os mastros
E de me abrir na brisa com as velas,
E há momentos que são quase esquecimento
Numa doçura imensa de regresso.
 
A minha pátria é onde o vento passa,
A minha amada é onde os roseirais dão flor,
O meu desejo é o rastro que ficou das aves,
E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.
Pirata, Sophia de Mello Breyner Andersen

segunda-feira, agosto 07, 2006

um pouco de verão...

Amor...
Amor é a poesia que floresce na tua boca,
O som da chuva que beija a vidraça,
A luz que se perde no horizonte do entardecer,
A música que quebra o silêncio de minh'alma,
O riso de uma criança,
A brisa entre as flores da Primavera.
Amor és tu...

sexta-feira, junho 16, 2006

By William Faulkner

"Recuso-me a acreditar no fim do homem (…). Torna-se demasiado fácil dizer que o homem é imortal apenas porque resisto; que, quando o som da última badalada da condenação ressoar e se for extinguir contra a derradeira rocha inútil e seca, a flutuar na surpresa tarde rubra e moribunda, então ouvir-se-á ainda outro som além deste: o da voz do homem, débil e inextinguível. Quanto a mim, recuso-me a aceitar isto. Eu acredito que o homem não resistirá apenas, mas que ele pre- valecerá. O homem é imortal, não só por ser a única, entre todas as viaturas a possuir uma voz inextinguível, como também porque possui uma alma, um espírito capaz de compaixão, de sacrifício, de resistência. É dever do poeta e do escritor escrever acerca destas coisas. É privilégio deles ajudar o homem a resistir, animando-o, recordando-lhe a coragem, a honra, a esperança, o orgulho e a compaixão, a piedade e o sacrifício que fizeram a glória do ser passado…"

William Faulkner, discurso do prémio Nobel da literatura de 1949

sábado, junho 03, 2006

Elbereth Gilthoniel

O hino a Elbereth, também chamado Aerlinn in Edhil o Imladris, ou Hino dos Elfos de Imladris, da autoria do Professor Tolkien e que deixo aqui à consideração, é o maior texto em sindarin presente na Triologia do Senhor do Anéis, e constitui-se como uma magnífica obra prima de linguística, mitologia e fantástico.

A Elbereth Gilthoniel
O Elbereth Star-kindler

Óh, Elbereth estrela cintilante

Silivren penna míriel
White glittering slants down sparkling like jewels
Brancas faíscas derramam-se como jóias brilhando

o menel aglar elenath!
from [the] firmament [the] glory [of] the star-host!
do firmamento, na glória da lua estrelada

Na-chaered palan-díriel
To-remote distance far-having gazed
Em terras distantes, contempladas à distância

o galadhremmin ennorath
from [the] tree-tangled middle-lands,
de regiões da Terra-média enredadas em árvores

Fanuilos, le linnathon
Fanuilos, to thee I will chant
Fanuilos, a ti eu cantarei

nef aear, sí nef aearon!
on this side of ocean, here on this side of the Great Ocean!
em terras distantes, além do mar!

A Elbereth Gilthoniel o menel palan-diriel, le nallon
O Elbereth Starkindler from firmanent gazing afar, to thee I cry
Ó Elbereth Gilthoniel de terras distantes, a ti eu choro

sí di-nguruthos!
A tiro nin, Fanuilos!
here beneath death-horror! O look towards me, Everwhite!
aqui sob o horror da morte! Ó olhai para mim, Toda-branca!

*fonte: duvendor
www.duvendor.hpg.com.br

domingo, maio 14, 2006

Une Saison en Enfer

«Outrora, se bem me recordo, a minha vida era um festim em que se abriam todos os corações, em que todos os vinhos fluíam.

Uma noite sentei a Beleza nos meus joelhos. – E achei-a amarga. – E injuriei-a.

Armei-me contra a justiça.

Fugi. Ó feiticeiras, ó miséria, ó ódio, a vós foi confiado o meu tesouro!

Consegui fazer dissipar-se no meu espírito qualquer esperança humana. Para estrangular toda a alegria, saltei sobre ela como uma fera.

Chamei os carrascos para lhes morder a coronha das espingardas enquanto morria. Invoquei os flagelos para me asfixiar com areia, o sangue. O infortúnio foi o meu deus. Estirei-me na lama. Sequei-me ao vento do crime. E preguei belas partidas à loucura.

E a primavera trouxe-me o riso medonho do idiota.

Ora, tendo-me encontrado muito recentemente prestes a dar a última fífia, pensei procurar a chave do festim antigo, onde talvez recuperasse o apetite.

A caridade é essa chave. – Esta inspiração prova que sonhei!

“Permanecerás hiena, etc…”, protesta o demónio que me coroara de tão amáveis papoilas. “Ganha a tua morte com todos os teus apetites, e o teu egoísmo e todos os pecados capitais.”

Ah! tomei demasiado daquilo: - Mas, caro Satanás, conjuro-vos, olhai-me menos irritado! e enquanto esperais as cobardiazinhas atrasadas, para vós que no escritor amais a ausência das faculdades descritivas ou instrutivas, arranco estas folhas medonhas do meu caderno maldito.»

Arthur Rimbaud, Une Saison en Enfer

*tradução: Maria Gil Moreira. Colecção Mínima – Ulmeiro