segunda-feira, fevereiro 26, 2007

O maior português de sempre

Numa altura em que a discussão da "portuguesidade" é um dos temas centrais da praça nacional, a minha escolha para o melhor/maior português de sempre recai sobre o .... POVO. O Povo porque foi com o seu sangue que se fez este País. O Povo porque é ele a alma de um país. Porque sem Povo não haveria Portugal.

Mas no povo há de tudo. Há bom povo e mau povo. Importa por isso destrinçar a que povo me refiro. O Povo de que falo é aquele representado pelo Homem do Leme de Fernando Pessoa (in Adamastor, Mensagem), aquele que pode tremer perante o Adamastor mas cuja vontade não vacila. O Povo corajoso, aventureiro, poeta. O Povo saudosista e boémio. O Povo Português.

"Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!"


Infelizmente, o Povo não faz parte da lista elaborada pela RTP... Mas como não faz parte dos meus planos abster-me, após matura reflexão acabei por chegar à conclusão que Camões é a escolha certa.
Porquê Camões?!
Camões porque é para mim aquele que melhor encarna o espírito de ser português. Foi aventureiro e saudosista; patriota e corajoso; boémio e poeta. E foi precisamente na poesia que alcançou a sua maior realização: Os Lusíadas. Os Lusíadas que são uma das maiores obras literárias de sempre. Os Lusíadas da Epopeia Portuguesa; um canto ao orgulho de ser Português e ao espírito patriótico. Porque foi com Os Lusíadas que renasceu o sentimento lusitano (bem anterior a D. Afonso Henriques!). Mas sobretudo, porque Camões é o pai da literatura portuguesa. Foi nele que ela nasceu. Foi ele o primeiro a exaltar a Língua Portuguesa.

E porque "a minha pátria é a língua portuguesa" o meu voto só poderá ir para Luís Vaz de Camões, o maior dos portugueses.

5 comentários:

Graza disse...

Está bem justificado o teu voto e compreendo o ponto de vista, mas, esse Povo não emergiu nos Descobrimentos, foi o resultado da construção de uma Nação durante os 500 anos anteriores, que só foi possível porque D. Afonso Henriques viu que a mãe se amancebou com um espanhol e teve a ousadia de a combater para fazer o país que achava que era possível... Foi o primeiro português a acreditar em Portugal! E tu achas que eu o deixaria ficar só? Por muito que me custe por Camões, Pessoa o Infante etc.. Nunca!... Viva D. Afonso Henriques!

Unknown disse...

Graza, estive agora a fazer algumas alterações ao post que julgo explicarem ainda melhor a razão da minha escolha.

Também compreendo a tua escolha e explicação, mas permite-me que discorde e apresente as razões do porquê.
Julgo ser de aceitação geral que o verdadeiro português não existe, tal é o misto de povos e culturas que congrega em si. (De facto, acredito piamente que somos um dos primeiros "melting pots" da história, se não mesmo o primeiro.)

Mas para descortinar as origens do Português recuar até ao século XII não chega. As verdadeiras origens da nossa "alma" datam da altura do império romano e remontam ao bravo povo dos Lusitanos que durante 2 séculos resistiu temerariamente, entre os Hermínios e a Estrela, à invasão estrangeira. Eles foram os primeiros e foi neles que começou a fusão das culturas.

Porque não D. Afonso? Porque embora ele sendo o responsável por Portugal enquanto país ele não é o primeiro português como muitos afirmam. Na verdade ele nem sequer era português ou lusitano, visto ser filho de mãe espanhola e pai borgonhês.

Porque não D. Afonso? Porque apesar de todo o respeito e orgulho que nele tenho, acredito que o país que ele quis construir nunca o fez por Portugal (e pelo povo) mas sim por ele mesmo. A sua ambição era ter um reino para ele próprio, independente, autónomo. Julgo que para ele tanto fazia que fosse na Galiza, Castela ou Aragão, desde que fosse seu. Calhou ser em Portucale (ainda bem!).

O Povo, esse que já cá vivia e que derramou o sangue por Santarém, Lisboa, Aljubarrota, Porto, etc, é o verdadeiro herói. O Povo representado em Martim Moniz. O Povo do Homem do Leme.

Mas o que importa é que no final continuaremos a ser portugueses e é isso que devemos valorizar.

Viva D. Afonso Henriques!

Graza disse...

Vê-se fácilmente que a minha apreciação é tudo menos uma atitude ponderada por pela análise dos respectivos pesos em causa. Nunca atribuí a estas escolhas um relevo especial porque quando tens que optar entre as duas melhores coisas dos dois melhores géneros que gostas, crias sempre uma injustiça com algum. Fiz aqui uma espécie de voto por cortesia, brincando também.
Escalpelizando o teu argumento e contra-argumento, dou-te os meus parabéns porque foste claro na promoção do teu eleito e na despromoção do outro candidato com muita coerência. Mas levando em conta a imagem que quero que seja projectada com esta escolha (continundo se grandes ponderações) continuo a achar que faz mais sentido para mim que seja com a do primeiro português que com um gesto também épico, se lançou naquela aventura à nove séculos e estabeleceu o principio das fronteiras mais antigas da Europa... porque não queria ser espanhol!...Não é uma boa causa 

Mamede disse...

D.Luís I. Aboliu a escravatura e a pena de morte nos anos de 1870's!Quem nessa altura se atreveria....Isto é que Portugal devia forçar no mundo todo, especialmente qdo vem o governo dos USA a dizer que batemos nos presos...

Unknown disse...

Mamede claro que essas nâo deixam de ser uma medidas extremamente louváveis e importantes.

De facto, estimo a tua opção e respeito-a. Contudo, como já deves ter reparado ambos consideramos valores diferentes para a nossa escolha, priviligiamos pontos e circunstâncias diferentes. Daí Camões ser a minha escolha e que por certo tu também compreenderas.

Mas tudo isto, tal como eu e o Graza acabamos por concluir, não passa de uma grande incongruência. Em última análise todas as escolhas são subjectivas e parciais. Não existe 1 mas muitos grandes portugueses. Homens que lutaram e fizeram a história deste nosso país . Talvez por isso a minha escolha inicial tenha recaído sobre o Povo.

( De qualquer das formas, vê lá se não me fazes ir aí acima dar-te uns tabefes!)