quinta-feira, dezembro 28, 2006

Descobrimentos?! Quais descobrimentos. O que nós queremos é foguetes e croquetes

Enquanto pessoa que usufruiu directamente das actividades promovidas pela Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses (CNCDP), gostaria de partilhar convosco um excerto de uma entrevista feita a António Hespanha, ex-presidente da já extinta CNCDP, pela revista Visão (N.º712) e que tem um título extremamente sugestivo:
"As vaidades são caras. Responsáveis do Governo queriam fogo-de-artifício. E propaganda. Assim se comemoraram os Descobrimentos. E se gastaram milhões."
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Como já seria de esperar a entrevista é um verdadeiro dedo na ferida, onde se lêm duras críticas à irresponsabilidade das políticas governativas em Portugal. Para reflectir...
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"(...) O que é que ficou das Comemorações do Infante D. Henrique, de 1960? Ficou o Portugaliae Monumenta Cartographica. É evidente que se pode fazer muito mais do que isso.
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Então, o que deve ser?
Pode ser, também, o tal fogacho. A tal coisa de «interessar o grande público pela história». Mas há uma questão ética. Não se pode levar as pessoas atrás de falsas ideias, porque senão é propaganda. As pessoas distraem-se com a Cultura. A História é uma zona esquecida. Nós temos arquivos que, talvez com excepção do Reino Unido, digo talvez, são os arquivos mais importantes para a História do Mundo! A Torre do Tombo, o arquivo Histórico Ultramarino, o arquivo da Sociedade Portuguesa de Geografia, que vive numa pobreza envergonhada, e qualquer dia arde, e o Arquivo da Ajuda. Cobrem desde a América ao Japão. E desde o início da Expansão, coisa que os ingleses não têm. Do ponto de vista económico, desde que rentabilizados, estes arquivos davam muito dinheiro. Os historiadores e investigadores estrangeiros tinham que cá vir. E isso quer dizer hotel, restaurante, promoção do país, quer dizer relançamento da História da Expansão Portuguesa, que é uma matéria investigada, praticamente, só por portugueses. A atracção da Espanha é muito forte. Nos EUA, as cátedras de História da Expansão são dominadas por especialistas na Expansão Espanhola. A História podia ter mais atenção. Agor, houve o acordo com o MIT. Porque não se pensa fazer algo semelhante para a História? Este esquecimento da História é paradoxal."
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Depois disto é caso para perguntar onde anda o Ministério da Cultura? Bem, mas a resposta a isso já todos nós sabemos: o MC está onde o sensacionalismo e o populismo está. Porque a preservação da Cultura é apenas uma mera miragem neste país à beira mar plantado. Quanto a mim, não tenho quaisquer dúvidas que preferia muito mais assistir à preservação do património existente do que à compra da colecção Berardo, apesar de achar a mesma colecção de grande valor e importância. De facto, essa nem seria uma ecolha que deveriamos ter que fazer: ambas as opções são uma prioridade.

2 comentários:

Anónimo disse...

Uma das mais impressionantes coisas que testemunho dos ingleses, é a enorme produçåo escrita que fazem acerca de qualquer tema. Seja historia, cultura, business ou entertenimento é sempre possivel encontrar uma pagina de internet, ou um livro ou um mero artigo que nos acrescenta sempre algum conhecimento. O espólios históricos sao imensos e os programas televisivos que os exploram de forma alegre, simples e despida de intelectualismos, sao multiplos e transversais aos diversos canais generalistas. Embora a BBC seja um benchmark. Vale a pena dar uma olhadela ao site dedicado a historia (http://www.bbc.co.uk/history/).
Os nossos antepassados perceberam muito cedo que a historia nao sao apenas os factos e o seu viver. A historia e sobretudo o que se constroi a partir dai e o que queremos que os outros saibam de nos... Nao espanta que tenhamos tido tantos cronistas. Grande parte das naus e caravelas que se lancavam sem medo ao mar levavam a bordo um cronista.
Tenho conhecido imensa gente de tantas partes do mundo e, por curioso que pareca, Portugal nao e sinonimo apenas de Figo e Cristiano Ronaldo. Indianos, Japoneses, Chineses, Sul-Africanos, Venezuelanos, Argentinos e até Americanos sao apenas algumas das nacionalidades e todos eles me falaram de tanto Portugal para alem do Futebol! Vasco da Gama, Infante D. Henrique, Mario Soares, Terramoto de 1755, Cristovåo Colombo (o Americano sabia da eventual nacionalidade portuguesa) e dos nossos escritores (Pessoa, Saramago, Lobo Antunes, Lidia Jorge - muito apreciada por estas bandas)... Ha inumeras universidades em Inglaterra que dedicam mais estudo a nossa lingua e historia que muitas em Portugal, que vao a Portugal a procura de informaçao esquecida...
A entidade de um povo revela-se no orgulho na sua historia e, se muita gente soubesse em portugal como por isso somos apreciados por esse mundo fora, talvez perdessem apenas um bocadinho de tempo a dar-lhe vida ou pelo menos condicoes dignas de vida...

Anónimo disse...

Desclpa ai os acentos mas ja sabes que teclados ingleses nao ajudam