A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade voltava
igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das suas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
domingo, setembro 24, 2006
Verdade
Verdade, Carlos Drummond de Andrade
Por Unknown às 8:27 da tarde
Marcadores: calma lá que isto sou eu, conversas filosóficas
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