domingo, setembro 19, 2010

10000 Anos Depois Entre Vénus e Marte

José Cid é um daqueles músicos que um tipo não sabe se há-de rir ou chorar. Isto porque se por um lado há o José Cid dos Quarteto 1111 e que nos trouxe obras magníficas como "Onde Quando Como Porque" e a "Lenda de El-Rei D. Sebastião"; por outro temos um Cid homofóbico latente e que canta coisas como "favas com chouriço" e "macaco gosta de banana". Claro que pelo meio ainda pudémos desfrutar de "Cai Neve em Nova York" e "Um Grande, Grande Amor", mas nada ao nível dos tempos do 1111. Caso para dizer que a um inicio prometedor se seguiu uma carreira titubeante.

E vivia eu com esta desilusão até que há uns dias, por mero acaso, me deparei com "10000 Anos Depois Entre Vénus e Marte". Ouvia uma mistura de rock português quando pelo meio surge "Fuga Para o Espaço" e ocorre súbita revelação: era José Cid quem cantava. Então não é que em 1978 o raio do homem fez um álbum de rock progressivo?! E pasme-se, é uma Ópera Rock Sci-Fi. Foi de tal forma extasiante que os meus ouvidos devem ter tido um orgasmo.
10000 Anos Depois Entre Vénus e Marte canta a epopeia de um homem e uma mulher que regressam à Terra dez mil anos depois da sua apocalíptica destruição. É um álbum conceptual que transpira anos 70 e se socorre dos habituais sintetizadores, mellotrons, moogs e riffs repetitivos. Ao nível de influências destacaria o épico típico dos The Moody Blues, o psicadélico dos Pink Floyd e um certo glam-rock à David Bowie.
Perante isto, não posso deixar de perguntar novamente como é que raio um gajo com este potencial acaba virando um Elton John. E a resposta que inicialmente se previa difícil até poderá ser bastante simples. Ao que parece, o álbum foi editado a contragosto pela Orfeu Records, argumentando que seria pouco comercial. A má vontade da editora terá sido tanta que o lançamento do LP só foi possível após José Cid ter abdicado das royalties a que tinha direito. E juntando-lhe a fraca adesão do público português estava cozinhado o cocktail para a desilusão de Cid, razão que provavelmente o terá levado a mudar de registo e atitude. Com muita pena minha, diga-se. Sem estranhar, 10000 Anos Depois Entre Vénus e Marte acabou por ter maior aceitação no estrangeiro. De facto, o LP original é uma raridade paga a peso de ouro e mais recentemente a pequena editora californiana Art Sublime re-editou o álbum em CD.

Para além de Cid (voz, sintetizadores, moog, mellotron), 10000 Anos Depois Entre Vénus e Marte contou ainda com os contributos de Ramon Galarza (percussão), Zé Nabo (baixo, guitarras) e Mike Sergeant (guitarras). É um LP composto por 7 músicas: 1. O último dia na Terra; 2. O Caos; 3. Fuga para o Espaço; 4. Mellotron, o Planeta Fantástico; 5. 10000 Anos Depois Entre Vénus e Marte; 6. A Partir do Zero; 7. Memos. De salientar que no período pós Quarteto 1111 e antecedendo este LP, Cid lançou ainda outra pérola de progressive rock, o EP Vida - Sons do Quotidiano.

Sem dúvida um dos melhores álbuns jamais feito em Portugal e que mudou completamente a forma como vejo José Cid. Confesso-me envergonhado por só agora me ter cruzado com este álbum extraordinário. Aqui fica:

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