segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Quando a esmola é grande o povo desconfia..

(...) Alberto João Jardim anunciou esta tarde a sua demissão, após 30 anos no cargo, para forçar eleições antecipadas, em protesto contra a aprovação da Lei das Finanças Regionais. (...)
Jardim avançou com a demissão — provando "não estar agarrado ao poder", segundo as suas palavras — com o anúncio prévio de que irá recandidatar-se. "Coloco-me nas mãos do povo, mas ao recandidatar-me à liderança do governo regional demonstro que não fujo, nem abandono, quando as circunstâncias estão insuportavelmente muito mais difíceis", sublinhou. (...) "Esta é a oportunidade para os madeirenses mostrarem ao país e ao mundo, através do direito de voto de cada um, que repudia a desigualdade e a injustiça", reforçou. (...)

No discurso, acusou os socialistas e o Governo de Sócrates de "instrumentalizar o Estado para fins partidários" e de proceder "à alteração ditatorial das regras democráticas" com a nova Lei das Finanças Locais, que reduz as transferências para a Madeira (um corte que poderá atingir os 34 milhões de euros já em 2007), limita o endividamento e proíbe o Estado de assumir as dívidas regionais.

(...) Jardim considerou que o Governo socialista actuou em desrespeito pelos madeirenses, "violando a Constituição da República, violando o estatuto político administrativo da região autónoma, violando os direitos de cada um dos madeirenses". (...)
Pois é, eu já andava todo esperançado que era desta que nos viamos livres do 'Adalberto' João mas parece que afinal ainda não. Demitir-se para se recandidatar... só mesmo desta personagem.
Dêem-lhe a independência que ele tanto clama que ainda saimos a ganhar.
É que no meio disto tudo quem tem razão é Teixeira dos Santos ao afirmar que já que quer tanto ser independente então que prove ser capaz!

E assim se vive neste Portugal (que por enquanto inclui o principado da Madeira).

11 comentários:

Graza disse...

Estão aqui todos os tiques dos Ditadores: adoram plebiscitar-se a eles próprios.

Unknown disse...

Talvez o primeiro ditador num regime democrático da história... Se bem que isso normalmente significa que a democracia deixa de existir.

Que "berbicacho"!!

Unknown disse...

Adoro o teu blog!!!!!!!

Assim não preciso de ler jornais :p

VFS disse...

Vou perdoar a sua lamentável leviandade, vestida de remoque gasto. Há um ano, o Graza, numa altercação frutuosa, compreendeu que a Madeira é um Jardim, mas não é do Jardim. Sabia o caro amigo que o "Adalberto" nunca conquistou uma maioria absoluta entre os eleitores recenseados? Nunca! A abstenção na Madeira, não obstante uma tendência para o declínio, continua nos píncaros. Se aseleições estivessem reféns de mecanismos jurídicos semelhantes aos que caracterizam os referendos, nunca uma vitória do Jardim tinha sido vinculativa. Se, em 300 mil pessoas, só uma foro votar - e até pode ser o próprio Jardim -, é suficiente para definir um vencedor. Perdoe-me a distopia hiperbólica, mas não só Saramago, exibindo um Nobel, tem direito a urdir cenários inverosímeis.
Na blogosfera, a circunuspecção opinativa ganha-se. Com o tempo...

Unknown disse...

Caro Vítor Sousa,

Antes de mais permita-me a sinceridade de lhe dizer que me senti embaraçado ao ler a sua resposta: não só pela informação que apresenta mas também porque tive que me socorrer do dicionário para compreender algumas palavras. E se por um lado isso me deixa um pouco envergonhado e um tanto ou quanto incapaz de responder, por outro actua como estímulo e incentivo à aprendizagem. Por isso aqui fica a minha resposta:

Nunca foi minha intenção afirmar que a Madeira era pertença de Alberto João Jardim (e muito menos os madeirenses!). Verdade seja dita que eu nunca estive na Madeira e que todos os meus conhecimentos acerca da realidade madeirense advêm da informação veiculada nos média. Mas a imprensa portuguesa deixa muito a desejar e toda a informação que chega até nós “continentais” é parcial e quase sempre foca-se única e exclusivamente nas actividades de Alberto João Jardim.

Ora e a realidade é que já lá vão 30 anos desde que ‘Adalberto’ subiu ao poder. Com ou sem maiorias absolutas há já 30 anos que ele lá está. Com maior ou menor abstenção ele tem-se mantido por lá. Não tenho também qualquer dúvida que a Madeira é hoje uma ilha bem diferente, mais desenvolvida e melhor apetrechada. Porém, durante esses 30 anos muito se passou também nos bastidores: corrupção, riquezas fáceis, desbaratamento de fundos públicos. Não digo que isso se passe só na Madeira, já que essa é uma realidade transversal a todo o país. Digo apenas que na Madeira isso teve (e tem!) uma outra dimensão e, é claro, destaque noticioso.

Jardim é um déspota (pelo menos para mim!). Pode não ter maiorias absolutas mas sabe como gerir o seu poder. O controlo que exerce sobre a imprensa, o tráfico de influências e o facto do Governo Regional ser o maior empregador da ilha (e os restantes são amigos de Jardim!) faz do povo madeirense refém.

São pois duas as elações que retiro: ou a culpa é dos políticos que nada fazem para mudar a situação (talvez por eles mesmos fazerem parte deste sistema corrupto); ou a culpa é do povo que de tão amorfo e entorpecido vive conformado com a realidade, sem capacidade de luta e resistência. Talvez a culpa derive de ambas opções…
Corrija-me se estiver enganado.

P.S.1 Concordo plenamente que a Madeira é um Jardim (embora, em parte, também a ache de Jardim!).

P.S.2 Obrigado pelo seu magnífico comentário.

VFS disse...

Caro Egas, confesso, sem petulância, que desde há algum tempo optei por abdicar de comentar as questiúnculas políticas que germinam, em particular, na Madeira. Já muito escrevi sobre a realidade sócio/política regional, pelo que, como deve deduzir, seria ciclópica a missão de compactar, aqui e agora, as minhas conclusões. Todavia, uma das conclusões foi enfatizada por si. O povo madeirense - note que me refiro, exclusivamente, ao plano político - é demasiado vulnerável à verborreia dicotómica do Jardim. Se Jardim é um déspota? Já lhe pespeguei outros adjectivos, embora seja obrigado a reconhecer que, se me ativer ao histórico de déspotas da História da Humanidade, Jardim é, naturalmente, ilibado. Dentro daquilo a que se convencionou chamar de "democrático", sim, Jardim é um déspota, mas não por razões que oscilem entre a vida e a morte. Em democracia, estes dois conceitos ganham outros contornos. "Ou estás comigo, ou estás com os comunas", diria Jardim.

O povo mantém e manterá Jardim no poder. Eu, que não sou mais do que ninguém, recuso-me a entronizar o povo, como fazem os alvos democratas, alegando que "o povo tem sempre razão". Não tem, e já por diversas razões o demonstrou.

Baixinho, quase sussurrando, não sei, por agora, o que é preferível. Se a manutenção de um regime assente na paulada, ou na construção de outro feito às cegas, por uma oposição débil. Enfim, assunto para muito debate.

Um abraço. Obrigado pelo seu comentário no meu blogue.

Unknown disse...

Na nossa rotineira pequenez Jardim surge como um déspota "à português".

Demitido obviamente perante mão-de-obra de outra craveira espalhada por esse mundo fora.

Confesso também que eu próprio considero a razoabilidade do povo extremamente dúbia. "O povo tem sempre razão", mas somente até ao momento em que essa certeza é desmentida. E isso acontece quase sempre, seja mais cedo ou mais tarde.
________________________

A visita ao seu blog foi um verdadeiro prazer, pelo que outras visitas e comentários se prevêem.

Graza disse...

Poís é Egas, nós reagiriamos mais ou menos assim se estivessemos do lado de lá, confrontados com aquele duplo problema que deve tornar, para pessoas com elevados níveis de cidadania, aquele ilha noutro jardim. O Vitor já produziu do melhor que li até hoje no arrasamento da personagem política e não só, que se configura naquele homem. Últimamente parece não desculpar a letargia que se apoderou daquele povo anestesiado pelos processos já ditos. Pelo contrário, nós aqui não temos o mesmo problema. Já tivemos governos de muitas cores. Já fizemos uma revolução vermelha que quase virou azul, já alaranjamos o país e fartamos-nos, já mostramos cartões cor-de-rosa, e sem partidos íamos elegendo um Presidente da República – mas ironia das ironias – esta proposta veio da Madeira. Sabias Egas? Eu não a sei totalmente mas um dia pergunto ao Vitor...
Mas não é isso que isenta totalmente o nosso povo da critica, porque há metas que não atingimos, embora encontremos na origem, razões e responsáveis. Custa-me por isso ser injusto com ele, como a um ser humano desafortunado da sorte. Não lhe chamem estúpido se desconhecem as razões que o trazem naquela estado. Por esta razão e também pelo princípio de defesa de clã reajo daquela forma, e só lhe fica bem. Contudo, há povos com tendência (genética?) permanente para a asneira, e aí confesso o meu raciocínio atinge uma bifurcação quântica que me remete para universos paralelos, ambos válidos...
Quanto ao dicionário, deixa ficar por aí, vais ver que vale a pena. Não desistas...

VFS disse...

Graza, sim, a petição foi lançada por mim, como se lembra. O Manuel Alegre confessou-me, depois, que ela catalisou um corpo que já parecia moribundo. Eu só acreditei quando ouvi, olhos nos olhos, a palavra do poeta.
Mas haverá novidades sobre esses tempos saudados. Em livro. Não meu. Mais Alegre que o meu.
Um grande abraço aos dois, e obrigado pelas palavras encomiásticas de ambos.

Unknown disse...

Graza, compreendi perfeitamente a posição assumida pelo Vítor e respeito-a na íntegra. A generalização fácil acaba sempre cometendo injustiças (mea culpa!).

De facto, a Madeira-jardim não é só Jardim. Há outros, felizmente. Outros como o Vítor, dotados de um elevado sentido cívico e crítico que urge valorizar.

Esperemos que o Vítor recupere do seu desânimo em relação às gentes da Madeira… (Lá diz o povo Vítor: a esperança é a última a morrer. Pode ser que acabemos surpreendidos. Se bem que na Madeira oposição credível e funcional só em miragens.)

Graza, ainda sobre teu último comentário, eu cá acredito mais numa tendência (genética) para o facilitismo e populismo do que para a asneira. Um certo laisser faire, laisser passer…

P.S. É claro que o dicionário se vai manter por cá.

Anónimo disse...

Por que nao:)