terça-feira, janeiro 16, 2007

A minh'alma está parva!!!

Durante uma das minhas escapadelas ao site do Markl descobri num post onde se discutia a mais recente crónica de Carlos Castro no 24 horas, essa mítica instituição de jornalismo de qualidade, o link para uma entrevista feita ao dito cujo por um site chamado Portugal Gay. Ora às tantas pode ler-se o seguinte:

"António Serzedelo: (…) eu sei que você faz poesia...
Carlos Castro: Faço, aliás publiquei um livro que está esgotadíssimo, e que por exemplo esta comunidade toda aliás à dias houve uma esposição no teatro da comuna, e que eu até tive muita pena que o livro não tivesse lá esposto. Quem escreveu o prefácio foi Joaquim Pessoa e que faz uma introdução em que diz que eu vou mais além no que escrevo do que da Florbela e do António Boto... sem narcisismo do António Boto que eu não tenho obviamente. Acho que está um prefácio muito bonito. Acho que aquele livro seria também como o Guilhermo Mello escreveu na altura, um belíssimo livro, o primeiro livro que foi como uma chibatada neste País como se sabe. Eu acho que este livro de poesia nesta época é muito importante."
(já agora o link para a entrevista: carlos castro no portugal gay)

Eu nunca li o livro do homem nem sou crítico literário, mas porra, basta ler qualquer uma das suas crónicas para perceber que no dia em a sua escrita chegar aos calcanhares de Florbela ou Boto, já o Arquitecto Saraiva ganhou o Nobel e as galinhas dentes. E não haja dúvidas que ele não é narcisista: ele só "vai mais além". De facto, só seria narcisista se tivesse dito que era melhor que Boto ou Florbela. Se bem que entre melhor e "ir mais além" não me pareça existir grande diferença.

Defitivamente Portugal continua a surpreender-me. E eu que pensava que já tinha assistido a tudo.

1 comentários:

Anónimo disse...

Markito
Já agora dá-me a tua opinião sobre a minha homenagem à memória do Horácio Craveiro que faleceu no passado Sábado. A minha escrita será melhor que a do CC cronista das revistas cor de rosa.

Morreu o Ti Horácio da Casa do Povo.

A notícia correu rápida numa manhã fria de Janeiro quando a Aldeia ainda dormia. Apenas uma ou outra chaminé deixa escapar o fumo da lenha que arde e aquece as casas ainda habitadas mas que vão já escasseando. Numa Terra onde há muito deixou de se celebrar a alegria do nascimento da vida, uma vez mais ecoa o som angustiante e triste do sino que anuncia mais uma morte.
Morreu o Ti Horácio da Casa do Povo
Morreu um Homem bom.
Há quinze dias foi o Zé Alves que abruptamente nos deixou. O amor à Terra trouxe-o de volta ao nosso convívio após longas décadas emigrado em França. Remexo nas minhas recordações de infância e recordo a alegria e mestria com que dirigia a “ junta de bois “ que lavravam as terras férteis do Favacal com bandos de “lavrandeiras” a banquetear-se de insectos e vermes que o arado ia revolvendo, ou puxavam pachorrentos mas enérgicos o carro que transportava as colheitas e que o chiar do eixo nos ajudava a localizar. Fervilhava então a minha Terra de gente e de vida que o chilrear dos pássaros musicavam. Deixou-nos também para sempre no primeiro dia do ano. Sentimos a tua falta.
Todos os anos a “Ponte” onde deixámos fluir os nossos mais íntimos e ambiciosos sonhos, mas que também liga a vida à morte é ponto de passagem para uma viagem sem regresso dos que para sempre nos vão deixando, e como Marguerite Yourcenar interrogo-me se “ ninguém ainda sabe se tudo apenas vive para morrer, ou se morre para renascer”.
Choro a morte do Ti Horácio com quem convivi nos últimos 30 anos.
Vivíamos então os primeiros anos da revolução de Abril e as ruas da minha Aldeia que se vinham então esvaziando num constante fluxo migratório, voltaram a animar-se com o regresso dos seus filhos que um dia viram interrompido o sonho Africano.
Com ele e outros, conheci a outra África que os manuais escolares não nos davam a conhecer e entendi a nostalgia que sentiam pela terra prometida.
Não resisto contar como foi a chegada do Horácio a Angola. No porto de Luanda aguardava-o o Nuno Vaz e no regresso à pensão após o desembarque avistaram uma moeda no chão que o Nuno mandou apanhar ao Horácio. Prontamente o Horácio responde-lhe: Então ainda agora cheguei e já queres que comece a trabalhar? Era certamente a moedinha da sorte, disse-mo um dia, pois jamais voltou a encontrar uma outra qualquer.
Prontamente ao chegar agarrou as oportunidades de trabalho que lhe surgiram e foi motorista de táxi e transporte público. Nas horas livres arroteou as terras de família já invadidas por giestas e urzes, donde retirava parte do sustento para a família. Reformou-se entretanto e perante a magreza da pensão arranjou trabalho no Bar da Casa do Povo e como condutor da carrinha do Centro Social. Na Casa do Povo soube merecer a amizade de gerações de jovens que choraram a sua morte tão prematura. Respeitou sempre as diferenças e foi acarinhado por isso. Norteou a vida pelos mais nobres valores, onde destaco a humildade e honestidade. A mesa , onde habilmente jogava cartas e dominó está agora amputada.
Que a tua alma descanse em paz Horácio. Os amigos jamais te esquecerão e deixo a minha homenagem e gratidão lembrando como disse Fernando Pessoa que “ morrer é apenas não ser visto. Morrer é a curva da estrada”

Casegas 16 de Janeiro de 2007

César Craveiro